A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA

Poucas pessoas se surpreendem com o facto de a brincadeira ser um fator importante para o bem-estar de um cachorro. Brincar estimula os seus sentidos, proporciona estímulo mental, fortalece laços sociais, é uma ótima forma de gastar energia, e certas brincadeiras – especialmente jogos de tração – são uma ajuda no treino de auto controlo.

Mas quando falamos de cães adultos, há quem se surpreenda com a ideia de a brincadeira ser igualmente importante. A tendência é acreditar que se satisfazem com passeios e andarem soltos num jardim, brincando ou não com outros cães. Partindo do princípio que o nosso patudo é sociável com outros cães, a brincadeira com eles não é suficiente.

Independentemente da idade, todos os cães passam por situações de stress e a recuperação de experiências stressantes é essencial para a uma boa qualidade de vida! Existem stressores diários (ruído do trânsito, por exemplo) dos quais uns cães recuperam rápida e facilmente; outros cães podem demorar até 72 horas para recuperar de uma experiência de stress – regra geral, estes cães têm uma predisposição biológica para lidar mal com o stress; e existem patologias comportamentais derivadas do stress – a perturbação de stress pós traumático, por exemplo, é uma patologia que deriva do stress e também da ansiedade. Lembremo-nos que os problemas e patologias comportamentais podem afetar cães de qualquer idade.

A brincadeira tem um efeito terapêutico e é essencial para a recuperação de estados de stress e resolução de patologias comportamentais.

A brincadeira repetitiva ajuda um cão a reconhecer padrões. Por brincadeira repetitiva refiro-me a um padrão ou ritual de brincadeira que é sempre igual e se torna previsível. Por exemplo: atirar sempre a mesma bola, na mesma direção, no mesmo local, e o mesmo número de vezes. Qual é a importância de ajudarmos um cão a reconhecer padrões? Situações previsíveis transmitem segurança a cães ansiosos e medrosos. A capacidade de reconhecer padrões, quando desenvolvida através de brincadeira repetitiva, mais facilmente se generaliza para outras situações. Desta forma, o patudo vai aprendendo a reconhecer mais padrões sinónimos de previsibilidade.

Jogos vigorosos e intensos, como jogos de puxa-puxa ou tentar apanhar a “presa” pendurada num flirt pole, resultam na libertação de grandes quantidades de uma proteína (BDNF, do inglês brain-derived neurotrophic factor) envolvida no crescimento de novos neurónios e formação de novas conexões neurais. Por sua vez, o crescimento de novos neurónios e formação de novas conexões neurais facilita a substituição de memórias negativas por memórias positivas.

Vamos, portanto, brincar de forma mais produtiva com os nossos patudos. É terapêutico para eles e para nós! Mas… o excesso de certos tipos de brincadeira pode ter o efeito oposto e provocar mais stress ou frustração. Há que saber dosear as sessões de brincadeira, ficando como referência, uma média de 4 a 5 sessões diárias de 3 a 5 minutos cada.