É INADMISSÍVEL QUE O MEU CÃO ME MORDA!! SERÁ MESMO?

Quando o nosso cão nos morde várias emoções e sentimentos se apoderam de nós.

Sentimo-nos quase que injustiçados pela “falta de gratidão” demonstrada. Afinal de contas, damos-lhe tanto carinho…brincamos tanto com ele…compramos-lhe tantos brinquedos…

A um nível subconsciente sentimos a nossa autoridade desafiada cada vez que somos mordidos, e daí ser tão comum a frase “não admito que algum cão meu me morda!”.

Que tal tomarmos consciência do porquê que o nosso patudo nos morde, em vez de defendermos a todo o custo a nossa “posição de líder da matilha” ou o punirmos por ser um “ingrato” ou um “desafiador”? Mais difícil ainda, que tal tomarmos consciência que numa grande parte dos casos somos nós os causadores dos comportamentos agressivos dos nossos cães?

Olhemos para algumas situações que facilmente resultam numa dentada

Sem nos apercebemos, somos invasivos

O nosso patudo está a descansar e resolvemos fazer-lhe festas. Como não sabemos reconhecer sinais subtis de stress (desviar o olhar, virar a cabeça, olhar-nos de lado, bocejar, lamber o nariz, por exemplo) insistimos. Num ápice, ele rosna, investe e morde. Neste cenário, o aviso foi dado; nós é que não o entendemos.

Punimos porque é “inadmissível” o nosso cão rosnar-nos

Rosnar faz parte da comunicação canina e tem vários significados, incluindo ser um aviso . Damos-lhe um osso 🦴 (o que regra geral é extremamente valioso para um cão) e decidimos tirar-lho só para testar a sua reação. Ele rosna; nós dizemos “não faz isso, seu feio! ”; a nossa mão continua a avançar para o osso; ele continua a rosnar, mas desta vez a mostrar os dentes; numa fração de segundo pensamos “quem manda aqui sou eu, e não admito que me rosnes!”; olhamos fixamente para ele (o que é uma ameaça para muitos cães) falamos-lhe num tom ameaçador e agarramos o osso; levamos uma dentada na mão.

A nossa fúria impede-nos de reconhecer uma reação de medo

Chegamos a casa, reparamos que o patudo roeu o sofá e começamos a ralhar com ele . Ele foge para debaixo de uma mesa, porque na realidade não entende que a nossa ira se deve ao sofá roído. Nesse momento, se olhássemos bem para ele iríamos ver que as suas orelhas estavam para trás e coladas à cabeça, e que a sua cauda estava entre as patas traseiras – sinais de medo. Mas como queremos que ele entenda que não pode roer o sofá e que isso só vai acontecer se for punido, tentamos agarrá-lo e puxá-lo cá para fora para continuarmos a ralhar (ou bater) até nos passar a fúria. Ao agarrá-lo, levamos uma dentada.

É importante entendermos que qualquer ser pode reagir agressivamente, pois a agressividade é um mecanismo de defesa.

Existe sempre uma emoção que motiva o comportamento. O neurocientista António Damásio comprovou, através de vários estudos, que a tomada de decisões é um processo emocional.

Portanto, quando um cão decide fazer seja o que for, há sempre uma emoção por trás dessa decisão. As emoções tipicamente associadas à decisão de agredir são: medo, stress, ansiedade, frustração.

Uma ou um conjunto dessas emoções vai estar sempre presente em situações em que o nosso patudo já nos mordeu ou morde pela primeira vez, a não ser que:

a) alteremos o nosso comportamento, nomeadamente aprendendo a ler a sua linguagem corporal e a respeitar o seu espaço pessoal;

b) contemos com a ajuda de um profissional que nos ajude a alterar comportamentos que consideramos problemáticos.