
Quando o nosso cão nos morde várias emoções e sentimentos se apoderam de nós.
Sentimo-nos quase que injustiçados pela “falta de gratidão” demonstrada. Afinal de contas, damos-lhe tanto carinho…brincamos tanto com ele…compramos-lhe tantos brinquedos…
A um nível subconsciente sentimos a nossa autoridade desafiada cada vez que somos mordidos, e daí ser tão comum a frase “não admito que algum cão meu me morda!”. 



Que tal tomarmos consciência do porquê que o nosso cão nos morde, em vez de defendermos a todo o custo a nossa “posição de líder da matilha” ou o punirmos por ser um “ingrato” ou um “desafiador”? Mais difícil ainda, que tal tomarmos consciência que numa grande parte dos casos somos nós os causadores dos comportamentos agressivos dos nossos cães?
Olhemos para algumas situações que facilmente resultam numa dentada
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𝐒𝐞𝐦 𝐧𝐨𝐬 𝐚𝐩𝐞𝐫𝐜𝐞𝐛𝐞𝐫𝐦𝐨𝐬, 𝐬𝐨𝐦𝐨𝐬 𝐢𝐧𝐯𝐚𝐬𝐢𝐯𝐨𝐬O nosso cão está a descansar
e resolvemos fazer-lhe festas. Como não sabemos reconhecer sinais subtis de stress (desviar o olhar, virar a cabeça, olhar-nos de lado, bocejar, lamber o nariz, por exemplo) insistimos. Num ápice, ele rosna, investe e morde
. Neste cenário, o aviso foi dado; nós é que não o entendemos.
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𝐏𝐮𝐧𝐢𝐦𝐨𝐬 𝐩𝐨𝐫𝐪𝐮𝐞 é “𝐢𝐧𝐚𝐝𝐦𝐢𝐬𝐬í𝐯𝐞𝐥” 𝐨 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐜ã𝐨 𝐫𝐨𝐬𝐧𝐚𝐫-𝐧𝐨𝐬Rosnar faz parte da comunicação canina e tem vários significados, incluindo ser um aviso
. Damos-lhe um osso
(o que regra geral é extremamente valioso para um cão) e decidimos tirar-lho só para testar a sua reação. Ele rosna; nós dizemos “não faz isso, seu feio!
”; a nossa mão continua a avançar para o osso; ele continua a rosnar, mas desta vez a mostrar os dentes; numa fração de segundo pensamos “quem manda aqui sou eu, e não admito que me rosnes!”; olhamos fixamente para ele (uma ameaça para muitos cães) falamos-lhe num tom ameaçador e agarramos o osso; levamos uma dentada na mão.
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𝐀 𝐧𝐨𝐬𝐬𝐚 𝐟ú𝐫𝐢𝐚 𝐢𝐦𝐩𝐞𝐝𝐞-𝐧𝐨𝐬 𝐝𝐞 𝐫𝐞𝐜𝐨𝐧𝐡𝐞𝐜𝐞𝐫 𝐮𝐦𝐚 𝐫𝐞𝐚çã𝐨 𝐝𝐞 𝐦𝐞𝐝𝐨Chegamos a casa
, reparamos que o cão roeu o sofá e começamos a ralhar com ele
. Ele foge para debaixo de uma mesa, porque na realidade não entende que a nossa ira se deve ao sofá roído. Nesse momento, se olhássemos bem para ele iríamos ver que as suas orelhas estavam para trás e coladas à cabeça, e que a sua cauda estava entre as patas traseiras – sinais de medo
. Mas como queremos que ele entenda que não pode roer o sofá e que isso só vai acontecer se for punido, tentamos agarrá-lo e puxá-lo cá para fora para continuarmos a ralhar (ou bater) até nos passar a fúria. Ao agarrá-lo, levamos uma dentada.



Portanto, quando um cão decide fazer seja o que for, há sempre uma emoção por trás dessa decisão. As emoções tipicamente associadas à decisão de agredir são: medo, stress, ansiedade, frustração. 





Uma ou um conjunto dessas emoções vai estar sempre presente em situações em que o nosso cão já nos mordeu ou morde pela primeira vez, a não ser que:
a) alteremos o nosso comportamento, nomeadamente aprendendo a ler a sua linguagem corporal e a respeitar o seu espaço pessoal;
b) contemos com a ajuda de um profissional que nos ajude a alterar comportamentos que consideramos problemáticos.